Primeiro pontífice latino-americano em quase 1300 anos, o ex cardeal e arcebispo de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio, agora Francisco, foi a maior supressa nesses últimos tempos na Argentina e no mundo.
De: Página3
Portenho do bairro de Flores, fã de futebol e filho de imigrantes italianos, o novo conclave é devoto dos escritores e novelistas argentinos Jorge Luis Borges e Leopoldo Marechal, um religioso intelectual e inteligente, reconhecido pela sua humildade e firmeza. Mais perto do povo que do governo, ele nunca deixou de ser uma pessoa simples e austera, gosta de beber mate e cozinhar as próprias refeições. Rejeitou os luxos durante seu arcebispado e tinha o costume de viajar de ônibus e metrô, como qualquer cidadão. Os amigos mais próximos dele ainda não entendem como aceitou este novo desafio, devido ao seu perfil.
Francisco I trabalhou muito nas favelas e sempre foi um sacerdote de rua, conhecedor dos assuntos sociais e comprometido com o povo. De bom relacionamento e muito respeitoso com as outras religiões, acompanhou de perto os judeus no atentado da AMIA em 1994, assim como as vítimas da tragédia do trem no ano passado, onde morreram mais de 50 passageiros, ele foi o primeiro sacerdote em se solidarizar no lugar do fato.
Como disse na cerimônia de consagração, a Igreja foi procurar o novo Papa até no ‘fim do mundo’, e foi mais ou menos assim. Quem diria que o novo papa iria ser latino-americano, né? E ainda mais argentino.
Ontem, após o anúncio, explodiram as redes sociais e deu pra fazer várias piadas a respeito, como é costume nestes meios. Até o jornal inglês Daily Mirror, colocou no portal de hoje: “The new Hand of God” (A nova Mão de Deus), fazendo referência àquele momento histórico do gol do Maradona (Também cabe lembrar que o recente Papa é torcedor do time San Lorenzo, até carteirinha de sócio ele tem).
A escolha do nome Francisco, tem a ver com São Francisco de Assis, o santo dos pobres. Francisco I é o primeiro Papa jesuíta, e como bom jesuíta, prioriza a educação de um país, não somente a espiritualidade. Sempre envolvido com os problemas sociais, Bergoglio aproximou a igreja aos mais desprotegidos, sem negar os sacramentos de batismo e comunhão aos filhos de mães solteiras e celebrou missa para prostitutas e marginais.
Até aqui tudo bem, mas esta surpresa foi ao mesmo tempo um balde d’água gelada para alguns. Ele chegou numa hora crucial para a Igreja e para o mundo, mas também para a situação social, política e econômica complicada que atravessa a Argentina. Nestor e Cristina Kirchner sempre tiveram uma relação complexa e de muitos desencontros com a Igreja, e com ele, especificamente.
O “kirchnerismo” não conseguiu dissimular o desgosto e desconcerto pela eleição deste religioso que eles sempre tiveram como inimigo. De certo não foi uma grata notícia. No passado, o matrimônio Kirchner tinha alentado denúncias judiciais por uma suposta cumplicidade do Bergoglio com a Ditadura no sequestro de seminaristas, o que jamais teve prova alguma e por isso foi desmentido.
Enquanto a eleição do novo Papa foi comemorada no mundo inteiro, os deputados do bloco “kirchenista” se negaram a interromper uma sessão ordinária para festejar o histórico acontecimento. Por sua conta, Cristina encaminhou uma carta sóbria, parabenizando-o.
O fato do Bergoglio ter baseado seu arcebispo na necessidade do diálogo, na luta contra a pobreza e a corrupção, a denúncia do narcotráfico e as impunidades, assim como sua aproximação com a oposição política, fizeram dele uma espécie de inimigo dos “K”, que talvez supunham que por trás disso havia alguma aspiração do tipo político-opositor. Possivelmente eles se encontravam na frente do espelho de uma realidade que não queriam assumir.
Apesar de vários twitteiros “K” terem criticado a designação do novo pontífice, vendo ele como um oponente do governo, a grande maioria sentiu alegria, emoção e até euforia, concentrando-se nas igrejas e na catedral para comemorar o anúncio histórico.
Um curioso detalhe pra finalizar: O número de sócio do Francisco I na carteirinha de San Lorenzo é o 8235, número que levou a loteria de ontem, aqui na Argentina. E outra, no calendário cristão do mesmo dia, 13 de março, se comemorou a Santa Cristina.
Será um sinal?
Fotos: Divulgação
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